DANDO SEQUÊNCIA AS MINHAS ANOTAÇÕES DO LIVRO EU PRIMATA - AÍ VAI A PARTE II -
Geralmente
os chimpanzés “só procuram intimidar uns aos outros com demonstrações de
agressividade que chamamos de ‘blefes’, porém ocasionalmente o blefe é
reforçado com ação”.
Como
os chimpanzés, “apesar da nossa tendência de mutilar e matar, queremos ouvir
que tudo vai ficar bem”.
Os
“chimpanzés levam sua política [de poder] mortalmente a sério”. Ou seja, ao
perderem certa parcela de poder, tramam, lutam e fazem o que for necessário
para reavê-la.
“As
manobras de dois contra um são o que traz tanto refinamento como perigo às
lutas de poder entre os chimpanzés. As coalizões são essenciais. Nenhum macho
pode dominar sozinho, pelo menos não por muito tempo, pois o grupo como um todo
pode derrubar qualquer um. Os chimpanzés são tão hábeis para coligar-se que um
líder precisa de aliados a fim de fortalecer sua posição e aumentar a aceitação
da comunidade em geral. Manter-se no topo é um exercício de equilíbrio entre
expressar veemente a dominância, manter os aliados satisfeitos e evitar a
revolta em massa [...] a política humana funciona exatamente da mesma forma”.
O
macho alfa é o líder. E para ser um macho alfa é necessário, além de músculos,
astúcia. Alguns machos utilizavam-se da astúcia para, junto ao macho alfa,
tornar-se braço-direito e conseguir recompensas próprias, as quais nenhum outro
macho poderia desfrutar, constituindo assim uma coalizão. Um erro do atual alfa
para com o seu braço-direito pode resultar num complô contra ele mesmo, por
conseguinte, sua perda de poder e a substituição do macho alfa (dominante) por
outro. Porém, a coalizão (antigo alfa e seu braço-direito), pela falta de
poder, pode vir a ressurgir, retomando, assim, o poder de forma violenta. As
brigas se tornam necessárias na tomada do poder. Mas as fêmeas podem vir a
interromper “coletivamente as alterações entre machos que se descontrolam”,
separando, assim, as lutas sangrentas. Além disso, elas podem vir a apoiar
certos machos e expressar a sua opinião quanto às brigas, como, por exemplo, no
caso de Puist e Nikkie, em uma agressão ao ganhador, por apoiar o antigo alfa.
“O
poder é o principal motor dos chimpanzés machos. Obsessão constante, traz
grandes benefícios quando obtido e imenso desgosto se inatingido”. Assim, para
os machos, a disputa pelo poder “é um jogo de tudo ou nada: a posição na
hierarquia determina quem plantará muitas sementes e quem não plantará semente
alguma”. Isso remete àquela tendência da seleção natural: “a produção de
descendentes” e, por isso, “os machos têm estrutura de lutador e tendência a
procurar pontos fracos nos rivais, além de certa cegueira para o perigo”.
“Para
um macho de alta posição hierárquica seria conveniente camuflar quaisquer
desvantagens, e essa tendência pode ter se arraigado. Entre os chimpanzés, não
é raro um líder ferido redobrar a energia que põe em suas demonstrações
ritualizadas de agressividade, criando assim a ilusão de estar em plena forma”.
Por isso, também, a tendência de o homem procurar um médico com menos
freqüência e esboçar mais dificultosamente as suas emoções.
Os
homens quando se encontram pela primeira vez, geralmente, fazem de tudo para
encontrar o ponto fraco do outro, além de tomarem posições e apresentarem
comportamentos intimidadores, desejam “impressionar o interlocutor o suficiente
para que o resultado seja favorável a si mesmos”.
“O
que os chimpanzés fazem com suas demonstrações ritualizadas de agressividade –
eriçando os pêlos, batendo em qualquer coisa que amplifique os sons, arrancando
pequenas árvores -, o macho humano faz de um modo mais civilizado, deitando por
terra os argumentos de outros ou, mais primitivamente, não lhes dando tempo
para abrir a boca. Esclarecer a hierarquia é a prioridade. Invariavelmente, o
encontro seguinte entre os mesmos homens será mais calmo, indicando que alguma
coisa ficou estabelecida, embora seja difícil saber exatamente o quê”.
O poder é como uma droga, além de gerar
euforia, vicia, e a sua perda gera ira, frustração e agressão. O egoísmo quanto
ao poder é exacerbado: os chimpanzés o guardam com ciúmes. Portanto, ser
destronado requer medidas drásticas para retomar aquele efeito primeiro – de
euforia e bem-estar, regozijando de recompensas. “Derrubar um macho [o alfa] do
seu pedestal produz a mesma reação despertada quando se arranca a chupeta ou o
cobertorzinho favorito de um bebê”. Quando perde o poder, o chimpanzé perde o
alento: “’a política dos chimpanzés’, como a política humana, é um embate de
estratégias individuais para ver quem sai vencedor”.
“Entre
os chimpanzés, a hierarquia permeia tudo”. Até mesmo a fêmea alfa ocupa uma
posição hierárquica e atacando outras fêmeas pode frisar a sua posição, sendo,
pois, respeitada. Diferentemente dos machos, as fêmeas chimpanzés não formam
coalizões: compartilham do poder, mas a fêmea alfa não necessita de apoio para
tal, pois são as suas características que determinam o seu grau de poder; sem a
necessidade de disputas não precisam apelar a embates físicos. Sem embargo, os
machos utilizam de embates físicos, pois o poder para eles sempre é disputável;
e eles mesmos precisam uns dos outros para a ascensão de status, formando, então, coalizões. A formação de coalizões é
necessária, pois, de forma política, vencer o rival individualmente abre a
possibilidade de ser posteriormente massacrado pelo grupo, daí a necessidade de
ser apoiado pelo grupo todo como sendo o soberano. Deste modo, a força física
não é a única prioridade ao soberano, mas também o apoio de companheiros – a
formação de uma coalizão.
Quanto
ao timbre de voz, pessoas de status
mais baixo tendem a igualar-se àquelas de status
mais alto, fazendo-se assim convergir os timbres de voz num mesmo. Pesquisas
demonstram que pessoas as quais mantêm o seu timbre de voz constante demonstram
segurança, ou seja, uma postura segura.
Outra
importante forma de linguagem não é senão a corporal, a qual os chimpanzés
percebem de forma extraordinária. “Atribuímos tanta importância à comunicação
verbal que perdemos a noção do que nosso corpo diz sobre nós”.
Logo,
dependemos tanto de hierarquia quanto de linguagem corporal: “a harmonia requer
estabilidade, e esta depende, em última análise, de uma ordem social
reconhecida”.
O
partido que tiver mais apoio será o vencedor. Deste modo, se o líder tiver mais
apoio que a oposição, então terá maior probabilidade de permanecer no poder,
enquanto que caso ocorra o contrário, a sua probabilidade de perder o poder
será maior. A submissão do antigo alfa demarca a assunção do desafiante a tal status e não apenas uma mera derrota
prima, ou seja, enquanto o macho alfa não demonstrar, sinalizar, que está
submisso àquele que o derrotou, nada estará decidido de fato. Tal ato assume a
face de que o ex-alfa deve assumir a nova posição do desafiante (atual alfa)
para uma ressocialização, caso contrário o ex-alfa pode ser deixado sozinho, de
lado.
As
fêmeas de chimpanzés também se unem formando coalizões que, geralmente, atacam
machos perversos. Com o uso da solidariedade e da autoridade de uma
orquestradora-mor essas fêmeas podem “ministrar surras tão memoráveis que
qualquer macho, compreensivelmente, se apressa a sair do caminho”.
As
fêmeas bonobos também agem em equipe nas florestas, porém tais grupos são
maiores, organizados pela alta sociabilidade de sua espécie. Elas
“aperfeiçoaram a solidariedade feminina latente em todos os grandes primatas
africanos” e criaram vínculos mais poderosos entre si. Desse modo, as fêmeas de
bonobos dominam o âmbito coletivo, ao contrário das populações humanas, cuja
dominância é masculina. Nos bonobos, as fêmeas estão associadas à aquisição de
alimento e por isso dominam o coletivo, sendo assim, “machos totalmente
crescidos reagem com submissão e medo à mera aproximação de uma fêmea de
posição hierárquica elevada”.
Como os bonobos machos não lutam pelo poder,
diminuindo, assim, a sua taxa de mortalidade, eles “têm vida mais longa e
saudável do que seus congêneres chimpanzés”. A hierarquia dos machos é feita
com apoio às suas respectivas mães, ou seja, o macho alfa é filho da fêmea alfa
e na fraqueza desta os seus filhos machos também serão subjugados a uma classe
hierárquica inferior. Portanto, os chimpanzés poderiam ser considerados mais
politizados que os bonobos. No que se refere à hierarquização das fêmeas, “a
idade parece ser pelo menos meio caminho andado para definir a posição de uma
mulher entre outras”. De tal forma, as movimentações sociais são bem menos
freqüentes nos bonobos que nos chimpanzés. Nos bonobos há uma menor chance de
camadas inferiores e ambiciosas ascenderem às camadas mais altas e, além disso,
conforme já mencionado, as coalizões dependem de parentesco. Assim, o bonobo
macho “tem menos oportunidades de moldar seu futuro do que o chimpanzé macho”,
os quais podem criar coalizões com outros machos não aparentados. Tal situação
possibilitou que “a evolução [fizesse] dos chimpanzés machos estrategistas
oportunistas”. Ou seja, o bonobo macho é jogado numa situação a qual “ele não
tem [...] controle sobre seu próprio destino”, o que “seus parentes [...], os
humanos e os chimpanzés, consideram direito inato”.
Grooming – afagar os pêlos
de membros do mesmo grupo e/ou espécie.
Os
chimpanzés escolhem logicamente quem apoiar numa campanha de poder,
corroborando a teoria das coalizões de que força é fraqueza. Desse modo, o
chimpanzé mais forte terá menos recompensas a oferecer ao braço-direito, pois
esse nada acrescentará àquele; já se o braço-direito foi adicionado a um
chimpanzé mais fraco, mas que em conjunto poderão derrotar aquele alfa poderoso,
o braço-direito será mais recompensado, pois o seu apoiado, que é mais fraco,
terá mais “a agradecê-lo” do que o outro. Logo, o princípio correspondente é
ilustrado: “fraqueza é força”. Assim, “os contendores menos fortes podem
posicionar-se em uma intersecção que oferece grandes vantagens”.
Na
“política dos macacos”, eles têm “tendência [...] a apoiar os vencedores, e
isso significa que os indivíduos dominantes raramente encontram resistência. Ao
contrário: o grupo oferece-lhes ajuda”. Já os chimpanzés são diferentes: ora
apoiam vencedores, ora perdedores. Portanto, as sociedades dos macacos são
altamente instáveis, sendo o poder apical mais precário “do que em qualquer
grupo de macacos”.
Conforme
já dito anteriormente, chimpanzés podem expressar as suas opiniões acerca de
fatos ocorrentes em seu grupo. Às vezes, as fêmeas se organizam em grupos
grandes para formarem “coros” que gritam para a interrupção de alguns ataques
que o alfa possa vir a fazer contra outra de seu grupo. A potencialidade desses
gritos ao atingir o macho depende muito da quantidade de fêmeas que se unem e
este fenômeno depende, por sua vez, da presença da fêmea alfa. Por fim, o macho
tende a cessar o ataque caso o grupo de fêmeas que grunhem se torne muito grande
e o som dos grunhidos se torne ensurdecedor.
Ostracismo – punição de um
macaco valentão por parte de seu grupo, forçando-o ao exílio do território.
“Se
os que estão no degrau inferior da escala social estabelecem coletivamente um
limite e ameaçam graves conseqüências caso os do degrau superior o transponham,
temos o princípio daquilo que, em termos jurídicos, chamamos constituição”.
“Grande autoconfiança combinada a uma atitude maternal punha Mama no centro
absoluto do poder” (os negritos são meus).
“seguir
ao pé da letra a escala social não nos levará a lugar algum. Sempre existem
pessoas em posições elevadas que têm pouca influência, e outras em posição
inferior (como a secretária do chefe) cuja amizade precisamos cultivar. É
verdade que a estrutura formal [da sociedade] reforça-se em tempos de crise,
mas de modo geral nós, humanos, tendemos a estabelecer uma ordem imprecisa de
influências entrecruzadas [...] [também] encontradas em uma colônia de
chimpanzés”.
“a
dominância social está sempre em nossa mente [...] O sorriso humano deriva de
um sinal de apaziguamento, e é por isso que geralmente mulheres sorriem mais do
que homens”.
“o
sistema político dos bonobos é bem menos fluído que o dos chimpanzés.
Repetindo: isso ocorre porque as coalizões mais cruciais, entre mãe e filhos
machos, são inalteráveis”.
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